Março: Mês da Mulher
No entanto, a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres ainda está longe do ideal. Para entender as diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho, por exemplo, a PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2007, diz que a equiparação de salários só deve acontecer daqui a 87 anos, para mulheres e homens que executam as mesmas funções.
“A data de comemoração do dia das mulheres é simbólica. É uma boa maneira de inserir o debate sobre os direitos das mulheres e colocar o tema na agenda. Sem dúvidas, é importante que as políticas públicas permitam a discussão nas escolas sobre igualdade de condições para os gêneros”, afirma Karina Janz Woitowicz, doutora em Ciências Humanas na área de Estudo de Gênero da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Alguns professores aproveitam a data para formentarem esse debate. A professora Maria Vilani Cavalcanti Gomes, especialista em Filosofia Clínica, organiza um grupo de professores na E.E Professora Adelaide Rosa Machado de Souza , Grajaú, São Paulo, para discutir as conquistas da mulher com os alunos. O projeto interdisciplinar chamado “O feminino e seus contextos” trabalha com a turma o atual papel da mulher na sociedade, preconceitos de gênero, história da mulher indígena, entre outros assuntos.
“Esse projeto nasceu nas conversas com minhas colegas professoras sobre a necessidade de trabalhos escolares que discutam de maneira mais ampla a questão das lutas femininas e quais são as suas representantes. Acho importante mostrar para os alunos o protagonismo que a mulher alcançou a base de muitas lutas”, afirma Vilani.
ORIGENS DO FEMINISMO
Em 1827, por meio de uma lei, as mulheres brasileiras foram autorizadas a frequentar a escola. No entanto, a lei garantiu acesso apenas às escolas elementares.
No mundo, o movimento feminista surgiu como uma forma de reivindicar o acesso à educação e muitos outros direitos básicos. As origens do movimento estão atreladas aos acontecimentos da década de 1960. Nesta época, com o surgimento da pílula anticoncepcional, as mulheres conquistaram maior autonômia sexual. Escritoras como Simone de Beauvoir e Betty Friedan ganharam espaço por buscarem desconstruir o papel então convencionado para a mulher na sociedade.
Um caso emblemático desse período aconteceu no dia 7 de setembro de 1968, quando centenas de mulheres de vários partes dos Estados Unidos saíram às ruas de Atlantic City e protestaram contra os estereótipos femininos e a “ditadura da beleza”. A ideia era fazer uma queima coletiva de sutiãs. No entanto, o plano não foi concretizado.
A autora Céli Regina Pinto, no livro “Breve história do feminismo no Brasil”, descreve duas fases do movimento no país: “feminismo bem-comportado” e “feminismo mal-comportado”.
Na primeira fase, entre o final de século 19 até o início do século 20, em 1932, as mulheres conquistam o direito de votar. A bióloga Bertha Lutz é a principal articuladora feminista do período.
A segunda fase, entendida como “mal-comportada”, foi marcada por mobilizações contra a ditadura, quando muitas mulheres brasileiras foram exiladas. Nesse período, as mulheres tiveram uma participação efetiva nas lutas pela democracia, mobilizadas para as causas gerais (fim da ditadura) e para causas específicas (pelo combate à violência doméstica, pela construção de creches para os filhos das trabalhadoras e pelo direito ao aborto).
Em 1985, foi criada a primeira delegacia da mulher. Quase dez anos depois, a Lei 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha, aumentou o rigor nas punições para violência doméstica ou familiar. Hoje, agressores de mulheres podem ser presos em flagrante ou ter prisão preventiva decretada. Além disso, a lei prevê medidas como a saída do agressor do domicílio e a proibição de sua aproximação da mulher agredida e dos filhos.
Luzinete Simões Minella, professora do programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que uma grande questão atual na luta por direitos é a conscientização sobre os preconceitos. “A misoginia, por exemplo, é muito maior que simples preconceito, é o ódio ao sexo feminino. Essa forma de pensar alimenta a ideia de alguns estereótipos e impede mais conquistas das mulheres”, afirma.
Veja alguns dos fatos históricos marcantes das conquistas das mulheres nas fotos abaixo



A bióloga Bertha Lutz é a principal articuladora do período em que as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto, em 1932. A filha do cientista Adolfo Lutz foi uma das idealizadoras do Partido Republicano Feminino. No poder, trabalhou para mudar a legislação trabalhista no que dizia respeito ao trabalho feminino e infantil.



